Vieira e a Pedagogia da Escrita



Num evento integrado no projecto da Biblioteca Autor do Mês, em Novembro dedicado ao Padre António Vieira, veio esta semana à EB 2,3/S o professor António Mendes proferir uma conferência subordinada ao tema Sermão da Sexagésima e a Pedagogia da Escrita. Perante um auditório repleto de alunos do 11º ano e respectivos professores de Português, aquele docente licenciado em Filosofia e mestre em Linguística Cognitiva que há anos leccionou em Caminha e aqui deixou gratas recordações, dissertou sobre a necessidade de regressar à arte retórica seiscentista de Vieira como meio de realizar uma verdadeira pedagogia da escrita com os jovens de hoje. Na senda do jesuíta português que — recordou — não hesitou em enfrentar os interesses económicos dos colonos do Brasil e a Inquisição portuguesa em nome da Humanidade primordial de índios e escravos africanos, há que aprender com Vieira que a palavra é acção e o primeiro passo para a escrita e a leitura, e não o inverso como pressupõe o paradigma actualmente dominante no contexto educacional da aprendizagem da Língua. O Sermão da Sexagésima, o preferido de Vieira, encerra pois uma preciosa pedagogia da escrita, cujos procedimentos técnicos apelam às capacidades naturais do produtor de textos e se constituem como um verdadeiro método de escrever: começar por observar internamente as próprias ideias, imagens, sentimentos e exemplos; seguidamente, reflectir, encontrar definições e estabelecer relações; finalmente, organizar essas mesmas ideias num discurso coerente. Em resumo, necessariamente pobre face à complexidade que por vezes assumiu a comunicação, foi esta a lição que nos trouxe o professor António Mendes que, no final, insistiu na necessidade de revalorizar o ensino das Humanidades — permitindo a todos dominar os códigos simbólicos fundamentais, como a Língua — como meio de promover a integração e combater as assimetrias sociais.

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