6ºB e 6ºD: Diários "à maneira de" Afonso Cruz


Apresentamos aqui um dos mais gratificantes efeitos da presença de Afonso Cruz no nosso agrupamento nesta Semana da Leitura 2016. Do conhecimento dos seus livros e do trabalho da professora de Português, Ana Paula Ribeiro, com os seus alunos do 6ºB e 6ºD (turmas da escola-sede), resultaram criativos diários "à maneira" do escritor e ilustrador português, particularmente inspirados no "Livro do Ano", um dos preferidos pelos jovens leitores caminhenses.


Diário “à maneira de” Afonso Cruz

6.º B

3 de fevereiro
No dia do meu aniversário sentei-me à sombra de uma bananeira e caiu-me um coco em cima da cabeça.

5 de fevereiro
Na minha terra, as pessoas dizem que o que dói faz bem. Ontem, atirei-me do muro mas, acreditem ou não, não me fez nada bem.

28 de fevereiro
Dantes pensava que as árvores tinham folhas, agora sei que as folhas têm árvores.

31 de abril
Ia ter avaliação na aula de dança e não tinha estudado nada. Então fui a dançar pela rua mas, como o caminho era longo, cheguei à aula com as pernas às costas.

6 de maio
Escrevi estas frases com uma borracha e apaguei-as com o meu lápis.
Mais tarde, sequei o meu peteiro e enriqueci o meu jardim.

18 de maio
À noite, a lua persegue-me.

1 de junho
É estranho pensar que somos o centro do universo e que tudo gira à nossa volta.

24 de junho
Perguntaram-me quantos anos tinha e eu respondi que a minha comida favorita era salmão com um pouco de sal.

29 de junho
Na escola, à porta da sala de aula, em vez de bater à porta, a porta é que bateu em mim.

40 de junho
Fui à cozinha buscar água, porque estava com sede. Depois, sentei-me em frente da televisão e como a televisão estava seca, dei-lhe de beber.

2 de julho
Hoje tive pena de um cão que estava a ser perseguido por uma gaivota.

9 de julho
No dia dos meus anos fizeram-me um bolo tão giro que, em vez de o comer com a boca, comi-o com os olhos.

3 de agosto
As pessoas do Instituto das Pessoas Normais pensam que os aviões voam no céu, mas na verdade o céu é que voa nos aviões.

34 de agosto
A Lua não desceu à Terra, a Terra é que subiu à Lua. As estrelas não brilham no escuro, o escuro é que ilumina as estrelas.

4 de setembro
Estamos no mês em que o verão nos abandona ou em que o outono nos expulsa?
10 de setembro
Achava que as pessoas conduziam os carros, mas agora acho que os carros é que conduzem as pessoas.

24 de setembro
Toda a gente diz que tudo cresce com a água. Então, fui buscar um copo de água e deitei-o por cima do meu computador, mas a sua memória não aumentou.

32 de setembro
Estamos no segundo dia que não existe em setembro.

57 de setembro
Vim até ao jardim e reparei nas folhas. Perguntei-me porque é que pintamos em folhas de papel e não em folhas de árvore.

5 de outubro
Hoje o chão explodiu em mim e até fiquei com o seu sangue no meu joelho.

7 de dezembro
Hoje é o dia em que vou acabar o meu diário. Amanhã o meu diário vai começar um diário sobre mim.







Diário “à maneira de” Afonso Cruz

6.º D

12 de março
Hoje acordei na escola. Levantei-me, vesti o pijama e fui para casa.

15 de março
Ao meio-dia fui jantar, estava com fome. Fiquei cheio, por isso, à noite, apenas lanchei. Olhei para o relógio – já era uma da manhã, decidi ir dormir mas, como estava de pijama, fui vestir-me.

21 de março
As flores começam a florir, mas eu não as quero ver. Por isso, deito-lhes chuva de outono.

14 de abril
Foi o dia do meu aniversário. Como de costume não recebi nenhum presente.
O dia estava de trovoada. Os gelados derretiam de frio e apanhei um escaldão devido à chuva intensa.

2 de julho
Levantei-me, tomei o pequeno-almoço, lavei os dentes, vesti-me e fui dormir.

4 de outubro
Acordei maldisposta, ainda por cima no dia do meu aniversário. Escovei os dentes na escola e vesti-me no guarda-fatos. O meu pai estava a dormir de pé e de olhos abertos. O meu irmão tomava banho no contentor do lixo. Tudo estava diferente.

6 de outubro
O meu irmão faz anos hoje, mas ontem à noite não se lembrava de nada. Só reparei quando ele vestiu as calças na cabeça e a camisola na cabeça. Calçou as meias nas mãos. Levei-o ao médico, mas nada resultou.

18 de novembro
A minha irmã, em vez de ralhar comigo, calçou as botas ao contrário. Do cachecol fez um chapéu e as luvas foram parar às orelhas. Parece que o mundo se virou ao contrário.

7 de dezembro
Levantei-me da cama sem me vestir, porque já estava atrasada. Fui a correr pelo aeroporto até à escola, demorei três horas, percebi logo que não era o melhor caminho. Entrei pela porta da frente de um supermercado e saí pela das traseiras coberta de couves. Por causa das couves, não vi nada, fui ter a um cais e, por engano, entrei num cruzeiro de luxo. Quando reparei, estava a caminho da Austrália.

32 de dezembro
Estava a passear na rua, como normalmente, mas com as calças de camisola e a camisola de calças. Não vá o diabo tecê-las e aparecer por aí o homem do Instituto das Pessoas Normais.


Comentários