6º A: 25 de Abril em poesia e entrevista

Desafiados pela professora Benvinda Madeira, na disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, a assinalarem o 25 de Abril, os alunos do 6º A optaram por formatos diversos. Alguns produziram apresentações em Power Point — que não podemos aqui reproduzir —, outros escreveram poesia, como a Rita Miranda, cujo poema desenhado ilustra esta postagem, outros ainda fizeram entrevistas a pessoas da sua família que viveram essa época, como foi o caso do Salvador Alves Cruz, que falou com a sua avó, Cármen Aires Alves, 67 anos, natural e residente em Caminha.


1. Sendo que a sua infância decorreu na época em que Salazar era presidente do conselho de ministros, como era a vida de uma pessoa comum?
Era uma vida muito difícil, com muita exploração e trabalho para crianças. Não havia grande tempo para ir à escola, tendo de prestar ajuda em casa porque eramos muitos irmãos. Também tinha de ir trabalhar, ou seja, não foi uma verdadeira infância com muito divertimento.

2. Como era brincar nas ruas, que era o caso de muitas crianças da altura, sendo que eram vigiados pela PIDE?
Na altura não brincávamos na rua pois os meus pais não me deixavam, nem a mim nem a meus irmãos, brincávamos no quintal lá de casa.

3. E os jovens como se divertiam se havia tanta vigilância?
Não sei, mas penso que se divertiam nos cafés, nas tabernas que existiam nesse tempo onde era a mercearia, onde se vendia vinho à tijela e se jogava as cartas. Lembra-me de ir à mercearia e de ver os homens a divertirem-se a jogar as cartas.

4. Como foi a experiência de viver uma época tão difícil em regime ditatorial?
Eram tempos muitos difíceis, porque havia a guerra colonial. Havia muita fome e miséria, onde os ricos eram muito ricos e os pobres eram muito pobres. Vivia-se muito mal.

5. O que aconteceu no concelho de Caminha durante o dia 25 de Abril 1974?
No exato dia foi um dia de grande festa, onde o povo saiu muito para a ruas e se sentiu a verdadeira democracia, a liberdade em que as pessoas se manifestavam e as coisas começaram a ser muito diferentes.

6. Os seus familiares falavam sobre a ditadura em reuniões familiares? A sua família era contra ou a favor do regime ditatorial de Salazar?
Quem se manifestava mais era o meu pai, que era contra o regime. Eu lembro-me de ele ouvir na Rádio Moscovo em que punha a minha mãe na porta para ver se vinha a polícia, com o medo, e o meu pai era bastante contra o regime de Salazar.

7. Algum amigo o familiar seu “fugiu” do nosso país para escapar à guerra colonial?
Sim, o meu irmão mais velho que tinha 18 anos, nós éramos sete irmãos e ele fugiu para França quando ele partiu sentíamos muito a sua falta, porque nós eramos uma família muito grande e uma família muito unida. Quando ele partiu nós choramos muito e ficamos muito tristes e sentimos muito a sua falta.

8. Sentia que existia algum tipo de discriminação ou desigualdade social entre o sexo feminino e masculino?
Sim, havia um tipo de liberdade diferente. As mulheres, as meninas eram mais recatadas. Os meninos brincavam mais na rua e as meninas ajudam mais os pais nas tarefas de casa.

9. Conhece alguém que foi interrogado pela PIDE?
Sim, o meu pai foi interrogado pela PIDE várias vezes. Queríamos ir a Espanha às vezes comprar calçado, que era mais barato, mas muitas vezes a PIDE não nos deixava passar. E ele foi muitas vezes interrogado porque, às vezes, à porta do café ele falava do regime em que se vivia e depois faziam queixa dele e era interrogado pela PIDE.

10. Lembra-se de algum episódio que queira relatar em relação ao regime salazarista?
Um dos episódios antes do 25 de Abril era o sistema educativo que éramos muito discriminados os ricos e os pobre. Os ricos podiam estudar e os pobres não porque não tinham possibilidade nem havia escolas por aqui. Havia só a escola primária. Eu era uma aluna bastante inteligente e a professora dizia que eu devia continuar os estudos e os meus pais queriam-me pôr a estudar, mas não tinha onde.

11. Sabe se o nosso concelho era um dos mais afetados pela ditadura em Portugal ou se havia locais onde se sentia mais as medidas impostas por António Oliveira Salazar?
Não, penso que não… Penso que o concelho de Caminha estava muito a Norte, distante de Lisboa, da capital, por isso não era tão afetado. Mas havia bastantes, como lhe chamavam na altura os “bufos”, que eram os Pides, e às vezes até já eram nomeados e dizia-se “tem cuidado porque está ali fulano” para a pessoa ter cuidado com aquilo que falava.

12. O que mudou na sua vida após o 25 de Abril?
Após o 25 de Abril mudou muita coisa na minha vida, tanto pela estabilidade no emprego como no aumento de salário que na altura ganhava 500 escudos e passei a ganhar o salário mínimo que era 3300 escudos. O que fez uma grande diferença na minha vida. Na altura tinha o meu marido que ia para a tropa e tinha uma menina e as despesas eram muito complicadas mas com a revolução do 25 de Abril eu fiquei muito mais estável a nível monetário. Na altura tinha-se muito medo à guerra do ultramar e eu tinha medo que o meu marido fosse recrutado para ir, mas felizmente com o 25 de Abril passou à reserva territorial.

Trabalho realizado por
Salvador Alves Cruz, 6ºA

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